segunda-feira, 22 de abril de 2013

Como Tudo Começou


Fazendo jus à fama dos italianos conhecidos por sua famosa culinária e amor pela cozinha; confesso que sou mais um dependente e apaixonado pela boa mesa, pelos bons vinhos e pelos cafés habilidosamente extraídos. Admirador e com uma dívida com chefs que me apresentaram esse universo de sabores, aromas e texturas e me transformaram no turista gastronômico que sou hoje.

De acordo com o Tripadvisor, foram 105 cidades em 11 países diferentes até agora (mas sigo trabalhando nisso), sempre com aquela curiosidade de encontrar uma sensação nova seja nos pontos turísticos mais procurados seja naquela “pâtisserie” pequenininha, comandada pela quinta geração de uma família construída em torno de um fogão à lenha.

Em trabalho de Pesquisa - Paris 2009

Nas primeiras vezes em que me aventurei por esse mundo, me deparei com uma sobremesa da qual havia ouvido falar muito, de fama mundialmente conhecida, oriunda da tão aclamada e respeitada cozinha francesa, o creme brulèe.

Assim que o garçom apresentou aquela tigelinha, rasa, com um topo queimado o meu primeiro sentimento foi “PUTZ"!!

Analisando a textura, cor e aroma daquela “gemadinha” não esperava nada de mais, até prová-lo. A mescla das sensações, da cremosidade com o crocante do açúcar queimado, com a baunilha, foi amor à primeira colherada. Amor triplicado no momento que descobri como tão poucos e simples ingredientes, habilidosamente arranjados poderiam resultar em uma sobremesa digna de ser a porta voz de uma das cozinhas mais exigentes do mundo.

E é aí que, ao meu ver, está o segredo do Brulèe perfeito, o chef que o faz. Muitos caem na cilada e pensam que essa é uma receita simples, mas o fato é que ela exige uma habilidade quase que artística para se apresentar como merece.

Fazer um ótimo prato com mil e um ingredientes, está longe de ser fácil, mas as chances de um ingrediente mascarar algum erro com o outro é maior, diferente do Brulèe em que a perfeição deve ser atingida com não mais que 5 ingredientes, alguns bem geniosos por sinal.

A tradução do nome Creme Brulée, para quem não viu ainda é “creme queimado”, sim, simples assim e três povos duelam por sua autoria, os franceses, os ingleses e os catalães.

Os, hoje espanhóis, alegam que o Brulèe é uma variação da sua tradicional “Crema Catalana”, ou “Crema Quemada”, e a primeira vista as semelhanças impressionam. Porém as primeiras “cremas catalanas” são citadas muito tempo depois que o Cheffrancês François Massialot fez a primeira menção ao creme brulèe em seu livro de 1691. O mesmo ocorre com o terceiro candidato, os ingleses, que reivindicam essa autoria alegando que ela seria uma variação do seu “Cambridge Burnt Cream” ou “Trinity Cream” onde como assinatura no topo de uma sobremesa cremosa o símbolo de Cambridge era queimado no açúcar sobre ela, mas a primeira aparição dessa receita aparece apenas em 1879.
Crema Catalana - Barcelona 2011

Com essas informações depois de uma pesquisa um tanto quanto nebulosa, e que ainda persiste, ao meu ver os franceses levam vantagem. E temos que considerar ainda que a “renascença culinária” ocorreu na França na era moderna, onde novas técnicas foram criadas e aperfeiçoadas junto com seus próprios chefs. Técnicas essas indispensáveis para criação dessa receita.

E além do mais, alguém acredita que os franceses no alto do orgulho por suas tradições, reconhecidos por sua xenofobia por vezes até demasiada, elegeriam uma receita não francesa de berço para representar sua cozinha para o mundo?? Na minha opinião, NEM MORTOS! Risos.
Texto por Giordano Corteletti